O segundo dia de greve destes profissionais deixou centros de saúde sem enfermeiros ou com “muito poucos”, e blocos operatórios apenas a responder a urgências.
“Os vários indicadores apontam que hoje há um elevadíssimo número de enfermeiros em greve nos cuidados de saúde primários”, adiantou o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), explicando que a paralisação também está a afetar as consultas externas nos hospitais e “os blocos operatórios, na realidade, estão apenas a responder às urgências”.
José Carlos Martins considerou os níveis da adesão à greve nacional “superior” ao primeiro dia de greve, que ocorreu na quarta-feira, que rondou os 60%, mas explicou não ter números precisos porque os dirigentes, delegados e ativistas participaram na concentração em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, e por isso não recolheram dados.
Numa conferência de imprensa durante o protesto, que reuniu alguma dezena de enfermeiros oriundos de várias regiões do país, o dirigente do SEP afirmou que a adesão à greve “traduz bem o enorme descontentamento dos enfermeiros”.
“E, por isso, estamos mais uma vez aqui hoje a exigir no essencial duas coisas: a valorização do trabalho dos enfermeiros e a resolução de injustiças e discriminações” informou, dando como exemplo os hospitais de Vila Franca de Xira e do Hospital Tâmega e Sousa, cujos enfermeiros estiveram representados na concentração por duas delegações.
Devido à falta de adesão ao acordo coletivo de trabalho (ACT) que o SEP já assinou, no Hospital Vila Franca de Xira, “os enfermeiros ainda hoje não conseguem progredir na carreira, ainda hoje têm 40 horas”, revelou José Carlos Martins, considerando também inadmissível o “volume de trabalho extraordinário assinalável”.
“Há uma enorme carência de enfermeiros lá e no resto do país e temos um conjunto de colegas que foram despedidos precisamente porque o Ministério da Saúde não autoriza a sua contratação, portanto, queremos a valorização através da reposição da paridade da carreira de enfermagem com as carreiras de técnico superior e outros profissionais de saúde”, apoiou.
Outras reivindicações do SEP passam pela aposentação mais cedo, como mecanismo de compensação pelo risco e penosidade da profissão, e a contratação de mais profissionais, mas, sustentou, “isto só é possível negociando com o Ministério da Saúde”.
É considerado, pelo líder do SEP, inadmissível que desde o dia 12 de maio o Ministério da Saúde não apresentado uma nova proposta de solução, nem agendado qualquer reunião, e deixou o aviso de que, caso este cenário se mantenha, “possivelmente o sindicato vai continuar a decidir o agendamento de formas de luta”.
José Carlos Martins justificou que a direção do SEP vai reunir, mas ressalvou que não farão greves por tempo indeterminado, ao ser questionado sobre a posição do SEP em relação à intenção manifestada por outros três sindicatos de enfermeiros de convocarem uma greve geral, prolongada no tempo, caso o Ministério da Saúde não convoque reuniões negociais até 04 de julho.
“Julgamos que essa não é uma via ajustada, mas a direção irá decidir o que irá fazer na fase seguinte”, arrematou.